O principal arguido do julgamento nos Estados Unidos relacionado com as “dívidas ocultas de Moçambique” disse que a família do ex-Presidente Armando Guebuza e a empresa acusada de subornos, Privinvest, são parceiros de negócios em vários setores desde 2014.
Jean Boustani, negociador da empresa Privinvest, acusado de quatro crimes nos Estados Unidos da América, disse hoje que as parcerias entre a Privinvest e as companhias detidas pela família Guebuza continuam a existir em Moçambique.
O arguido disse, em depoimento no tribunal federal de Brooklyn, que a Privinvest e a família Guebuza continuam com parcerias ativas em setores como da “imobiliária, eletricidade ou gás”, sendo uma dessas companhias a Now Prepay, em que Armando Ndambi Guebuza, filho do antigo chefe de Estado, “é um coproprietário“.
Jean Boustani disse que as oportunidades de negócios foram “abertas” e parcerias foram discutidas pela primeira vez “na visita de Estado do Presidente Armando Guebuza a Abu Dhabi“, uma das sedes da Privinvest, em 2014, depois da assinatura do contrato entre a Privinvest e a empresa pública moçambicana Proindicus, detida pelo Ministério da Defesa e os Serviços de Informação e Segurança do Estado (SISE).
O cidadão libanês disse hoje que a família Guebuza estava “muito interessada” no projeto de proteção da vigilância costeira pelo “poder económico” que tinha.
“A família Guebuza estava profundamente envolvida em portos africanos e logística portuária”, disse Jean Boustani, “daí o interesse do Armando Júnior [filho do ex-Presidente] em vir à visita de diligência às instalações da Privinvest“, em Kiel, na Alemanha, em 2011.
Para o proprietário da Privinvest, Iskandar Safa, uma relação com a família Guebuza era “tão importante e estratégica como uma relação com a família real de Abu Dhabi“, disse Jean Boustani em tribunal, já que os Guebuza tinham os “maiores negócios familiares de Moçambique” e dos maiores em África.
Na sessão anterior, na terça-feira, Jean Boustani recordou ter-se encontrado pessoalmente com Armando Guebuza em janeiro de 2013 e que o então Presidente terá dito: “Não é segredo, sou o maior empresário do país (…)” e “terei todo o gosto” para participar em novos empreendimentos.
Jean Boustani disse que depois da visita oficial do Presidente moçambicano aos Emirados Árabes Unidos, seguiram-se sessões de “brainstorming” onde foram faladas as oportunidades e as condições para o início de negócios partilhados.
Para a empresa Privinvest, refletiu Boustani, “a probabilidade de erro e fracasso era muito reduzida numa parceria com uma família tão poderosa”.
Sem indicar o nome do negócio, Jean Boustani disse que houve uma proposta da família Guebuza para a entrada numa “estrutura de imóveis em que tinham investido 15 milhões de dólares [13,5 milhões de euros]”.
“Se quiserem, podem juntar-se a nós”, terá dito o filho Ndambi Guebuza, citado hoje por Jean Boustani.
O arguido acrescentou que, para as novas parcerias com a família Guebuza, a Privinvest fazia correspondências com “o senhor Mucavele“, Nuno Simião Sofar Mucavele, que trabalhava para a família.
Jean Boustani, que começou o seu depoimento em julgamento na segunda-feira, tem feito várias revelações das opiniões do ex-Presidente Armando Guebuza sobre o contrato entre a Privinvest e a Proindicus para monitorização e proteção da orla costeira moçambicana.
A Privinvest fornecia embarcações e serviços de proteção costeira às empresas públicas moçambicanas Ematum, MAM e Proindicus, que recorreram a empréstimos de milhões de dólares, com garantias de devolução asseguradas pelo Estado de Moçambique.
Depois de falhar vários pagamentos, o Estado de Moçambique ficou com uma dívida de mais de 2,2 mil milhões de dólares (dois mil milhões de euros), revelada em 2016.
Fonte: Lusa