São mais de 500 alunos da Escola Primária de Ndlavela que ficaram totalmente desalojados na sequência do desabamento do tecto de sete salas. Na manhã de hoje, professores e alunos ficaram sem saber o que fazer nem para onde ir. Há um ano era perigoso, agora ficou impossível! As sete salas feitas de madeira e zinco na Escola Primária de Ndlavela, viram seu tecto desabado devido ao pequeno vendaval do último fim-de-semana.
Os barrotes cederam, as chapas de zinco invadiram o espaço que devia ser ocupado pelos alunos e pregos caíram, posicionando-se perigosamente no interior das salas.
Isso fez com que o Conselho de Escola, chefiado pela directora, Cláudia Tenda, interditasse a entrada de alunos logo cedo. Numa das salas, a escola até colocou barreiras para evitar que, por curiosidade, os meninos se fizessem ao interior e corressem o risco que se mostra iminente.
O risco é iminente também nas outras salas, por isso em nenhuma delas houve aulas, as crianças e os respectivos professores juntaram-se no pátio sem saber onde ir. O facto causava barulho de tal maneira que mesmo os alunos cujas salas estão em condições, não tinham o sossego necessário para que se concentrassem.
Como sempre faz, o menino Elvis, de seis anos de idade, chegou à escola um pouco antes das 06h30 minutos de hoje, foi entoar o hino nacional e dirigiu-se à sua sala. Chegado lá, deu-se de cara com uma barreira feita de duas chapas pregadas na entrada da sala.
Não lhe restava nenhuma outra opção senão aguardar por novas ordens. E não tardou, sua professora veio e disse que Elvis devia se juntar aos seus colegas na sombra da mangueira onde estavam todos concentrados.
Terminado o turno da manhã, os alunos voltaram para as suas casas e novo grupo chegou. Desta feita são os meninos que entram às 10 horas. Entre eles estava a menina Eunice, de seis anos e que está na primeira classe.
Esta segunda-feira ela não tinha onde estudar porque sua sala está sem tecto. Aliás, a menina conta que nunca gostou das condições da sua sala. “São de chapas e eu gostaria que fossem como aquelas outras”, falou timidamente a menina apontando para as outras salas convencionais que escola tem.
De tanto viver em situação de insegurança na sua escola, Eunice promete que quando crescer vai voltar para reconstruir de forma mais segura. “Sonho em ser engenheira de construção civil para arranjar minha escola”.
Enquanto Eunice não cresce para reconstruir a escola, a senhora Helena Maria continua angustiada por não saber quando é que a sua neta de 11 anos retomará às aulas.
“Ela entra à tarde e não sabe onde vai estudar, por isso vim aqui ajudar a escola a ver se improvisamos alguma coisa para que retomem as aulas”, disse a senhora que aproveitou o momento para apelar para que o Governo olhe pela escola e melhore as condições.
Em tempos, a comunidade local já resolveu problemas similares através de contribuições. No entanto, o Presidente do Conselho de Escola, Pedro Vasco, refere que a tentativa desta vez redundou no fracasso.
“Chegámos a um consenso que devíamos contribuir com um bloco para cada criança, assim como o fizemos para a construção no muro de vedação da escola. Mas desta vez quando cheguei cá, a directora da escola disse que não se contribuir isso e que era para trabalharmos em conjunto a ajudar a escola a remover estas chapas de zinco”, que aliás, também foram comprados pela comunidade.
No ano passado, o jornal “O País” publicou uma reportagem mostrando a situação crítica das salas em que os alunos estudam. Na altura, o então director da educação a nível da Matola, Daúdo Ussuale, disse que se estava à espera de alguém de boa-fé para resolver a situação. “A qualquer momento poderemos entrar com um empresário para fazer a construção de raiz”, disse Ussuale em Outubro do ano passado.
A estas alturas, a directora da Escola Primária de Ndlavela diz não saber de nada que diga respeito a tal apoio. “Não sei nada sobre isso”.
Para já, a direcção da Escola diz haver soluções provisórias encontradas em coordenação com a direcção distrital da educação.
“Estamos a tentar organizar umas lonas para esticarmos e continuarmos a trabalhar”, disse Cláudia Tenda, assinalando que o perigo não é só para os alunos, até porque se voltar a cair alguma coisa “o professor não sairá ileso”.
Enquanto as lonas não são esticadas os professores pegam nos seus alunos, param no meio do pátio e vão atrás das árvores que oferecem melhores e maiores sombras para continuarem com as suas aulas.
Fonte: O PAIS